Diante de uma prateleira infinita de vinhos, qual garrafa você escolheria? Foi mais ou menos assim que me senti nas vinícolas da África do Sul. Tantas possibilidades, tantas promessas, e junto delas a dúvida: como decidir? Vou pelos vinhos mais premiados? Pelas recomendações? Pelas paisagens mais bonitas?
Mais do que uma decisão de lazer, percebi que isso reflete muito do que vivemos no trabalho: a necessidade de planejar, escolher dentro das incertezas, não errar, de seguir modelos e padrões que nem sempre foram feitos por nós, mas que sentimos que “temos” que cumprir. E, às vezes, o excesso de planejamento e estrutura, assim como a pressão de acertar, consomem o prazer e a leveza do momento.
Voltando para a viagem, em Stellenbosch, optamos por um tour guiado: motorista, três vinícolas renomadas, vinhos premiados, lugares lindos. Tudo funcionou perfeitamente — seguro, previsível, certeiro. A experiência foi incrível, mas bastante estruturada.



Em Franschoek, a história foi outra. Pegamos o trem que percorre diferentes vinhedos, sem planejamento detalhado. Ansiedade e dúvida surgiram, mas também a beleza das descobertas inesperadas. Uma dessas surpresas foi a Rickety Bridge, uma propriedade histórica que nasceu em 1694, parte da fazenda La Provence, e que em 1797 foi concedida a Paulina De Villiers — uma das primeiras mulheres a possuir terras na África do Sul. Foi lá que vivemos experiências marcantes: harmonizar queijos e vinhos, docinhos e vinhos, aprendendo a arte de combinar sabores, tempo e atenção.
Ficamos, desaceleramos, aproveitamos cada momento. Nove rótulos já eram suficientes para nos lembrar que qualidade, prazer e experiência valem mais do que “checklists” e produtividade. Entre taças e vinhedos, percebi algo importante: não existe escolha perfeita. O roteiro de outro nem sempre é o melhor a seguir.

E é aqui que o paralelo se desenha para a vida profissional: assim como no lazer, no trabalho precisamos equilibrar planejamento e improviso, controle e flexibilidade, segurança e abertura para o inesperado. Cada escolha traz aprendizados, cada risco calculado pode revelar caminhos que não estaríamos prontos para enxergar se apenas seguíssemos instruções.
Trouxe 7 garrafas na mala. Não sei se eram as mais premiadas, mas eram as que fizeram sentido para mim. E isso já basta.
Talvez maturidade, no trabalho e na vida, seja aceitar esse equilíbrio entre o mapa conhecido e o encanto do improviso.
Quando foi a última vez que você se permitiu explorar, improvisar ou se perder um pouco para descobrir algo novo? E como isso pode se aplicar ao seu dia a dia, ao seu time ou à sua liderança?